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domingo, 5 de dezembro de 2010

Com atendimento integrado e gratuito, centro traz esperança para crianças autistas

Duas vezes por semana, a professora Olindina Mass, de 40 anos, e o marido André Emilio Sampaio Fernandes, de 39, colocam o filho de 7 anos no carro e percorrem 22 quilômetros da Vila da Penha até o Centro. Apesar de enfrentar quase duas horas de trânsito para chegar ao destino - o Centro Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência (CEMA-Rio) -, a família não encara os engarrafamentos do caminho com obstáculo.

Não é para menos. Desde que começou a frequentar o centro, há oito meses, o pequeno André Felipe, que é autista, deixou de tomar medicamentos, vem se tornando mais sociável e até reclama quando não é dia de "oficina". Como André, outra meia centena de crianças e adolescentes, entre 0 e 14 anos, conta com os serviços gratuitos da unidade municipal, que virou referência na área de prevenção, tratamento e reabilitação de pessoas com autismo.

- Esta reação do André, de demonstrar que gosta e sentir falta, é uma grande vitória. Como todo autista, ele tem dificuldade de socialização, mas estabeleceu uma relação afetiva com a equipe do centro. Ele adora vir para cá - conta Olindina, que também já percebe uma grande melhora na comunicação verbal do garoto e diz que André passou a suportar melhor ambientes com música depois que iniciou a musicoterapia.

Concentração em um prédio facilita vida das famílias
Ao todo, o CEMA-Rio tem quinze profissionais (entre fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacional, psicólogos, nutricionistas, professores de educação física, musicoterapeutas, assistentes sociais e cuidadores), que trabalham em conjunto num plano de desenvolvimento para cada paciente. Além da atenção diferenciada, apontam as famílias dos pacientes, a grande vantagem é que tudo é oferecido num só endereço, um prédio na Avenida Presidente Vargas, próximo da Central do Brasil. Com isso, os pais não precisam ficar se deslocando com a criança por vários pontos da cidade.

- Seguimos a linha desenvolvimentista, que aborda a criança autista como um todo, ao contrário de alguns centros, que tratam apenas os aspectos psicológico e psicanalítico. Aqui, ele passa por uma triagem, e identificamos quais ações devemos começar realizar. Em seguida, iniciamos o tratamento. Acreditamos que é a melhor maneira de ajudar esta criança a se preparar para viver em sociedade - explica a Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Isabel Cristina Pessoa Gimenez, esclarecendo que a pessoa autista tem dificuldade de imaginação, de socialização e de comunicação.

Segundo os especialistas do centro, cada criança, dependendo do grau de autismo, necessita estimular uma determinada função do aspecto sensorial, como a fala, o equilíbrio ou o paladar.

Há casos em que o fonoaudiólogo, explica a especialista Tânia de Castro Soares, precisa ajudar a criança a aprender a olhar nos olhos do interlocutor na hora de um diálogo: - Sem contar que o autista muitas vezes tem que ser formalmente ensinado sobre regras sociais. Tem que aprender a usar o "oi", o "como vai?" e o "tchau" - exemplifica.

Já a missão do nutricionista é, usando brincadeiras e jogos, ensinar a criançada a comer alimentos que, no dia a dia, elas costumam rejeitar, como frutas e hortaliças.

- Como apresentam comportamento repetitivo, muitos só querem comer um grupo de alimento, ou só alimentos de determinada cor, ou rejeitam algum por causa da consistência. O trabalho é lento, mas o desafio é fazer esta mudança de hábito, que precisa incluir família - explica o nutricionista Hugo Brás Marques.

A participação e, muitas vezes, o tratamento, da família do autista é, por sinal, uma das diferenças do serviço oferecido pelo CEMA-Rio. Atualmente, há 52 pessoas sendo atendidas e dezesseis famílias recebendo alguma tipo de auxílio ou orientação. Muito chegam ali sem saber que têm direito a um Riocard especial, por exemplo.

- Estamos atentos também ao pais e aos irmãos. Até para saber se eles apresentam algum espectro do autismo - diz a neurologista Eliana Silva, coordenadora técnica do CEMA-Rio - Os irmãos do autista sofrem bastante. Já houve crianças que apanhavam muito do irmão autista e tinham atrasos no desenvolvimento por causa disso.

Fonte: Site www.oglobo.com.br de 05/12/2010

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